Falar...
Hum.... Odeio que me mandem calar. Sim eu sei, Eu falo demais. Falo pelos cotovelos, pelos braços, pelas mãos... mas quando dão por encerrada uma frase que estava planeado ser mais comprida que a própria noite, e desenrolar-se por entre a rua... não consigo evitar este eco de grito que me leva a extremos de dramatismo, esta raiva de não ser mais do que corpo e ossos e sopro leve de brisa, cópia incompleta e imperfeita de algo que todos deveriam escutar, mesmo que apenas como uma impressão sentida no sussurro da rebentação das ondas do mar.
Não sou nem mais nem menos do que todos os amontoados de carne e sangue que se cruzam frívolos pelas cidades, pelas casas, pelas ruas. Não sei nem mais nem menos da vida que um bebé recém-nascido, cujos olhos mal abertos pouco vêm, e cuja pele em botão de seda pela primeira vez sente o calor do lençol, do corpo da mãe. Somos milhões, biliões, em breve muitos mais. E cada um de nós tem mais pensamentos do que as batidas de coração de toda a sua vida juntas, cada ser esconde no punho fechado algo mais do que aquilo que podemos ver a olho nú, a sua magia, o seu milagre, as suas ideias, medos e crenças, loucuras e desventuras e dores, e manchas, pecados, paixões, amores... um conjunto de alma que smi-oculta a sua verdade; cada um de nós é tão original e belo como cada tom de cada cor, somos juntos a obra mais bela, mas nenhum de nós se pode contentar em ser só ele mesmo, sentir por si só, pois seria apenas uma pincelada no vazio. Precisamos de ser um quadro, desenhado cuidadosamente com influencias de todos os estilos e ouvidos para todas as palavras.
Sei que falo muito. Mas deixem-me falar. Deixem-me mostrar que também eu, apenas uma pincelada de verde ou azul, sei falar da moldura, e da tela, e sei contar as cores do mundo. E quero aprender, mas também quero que aprendam comigo. Quero ter a visão e que ela vos contagie e guie e guie também a mim, para que na próxima obra de arte sejamos ainda mais inteiros, unido e cada vez mais próximos da perfeição. Deixem-me falar entre as vossas palavras sábias, para que a sabedoria aumente, mesmo com a minha ignorância. Porque só somos sábios quando temos noção da nossa ignorância e inconsciência do mundo.
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