Nada mais que isto.
Estou aqui, como vós, enterrada num mar de areia. Sufoco aos poucos por entre os sons mórbidos da cascavel que se arrasta sobre o solo, e dia e noite só vejo escuro... e sinto mais e mais cada grão de areia infiltrar-se por entre os meus poros e pousar sobre mim o peso de mil mundos, a dor de mil pesos. Já cessei os esforços de chamar a atenção: sobre mim existem apenas os sons suaves da chama que morre, o delicioso silêncio que me obriga, continuamente, a engoli-lo, que pretende absorver-me também, nesse nada que é. A intensidade fogosa da luz do meu dia deu lugar assim a uma noite fria, tão fria que nem se sente. Morre-se devagar sobre este deserto de murmúrios e sonhos calados, enterrados - vivos - como eu. Todos nós fomos cavando, rapidamente numa velocidade imprópria de poesia, as nossas covas. Esquadrinhamos como pudémos o chão que nos sustentava e fomos engolidos num deserto de água salgada que se impôs a nós. É uma fatalidade - sim - inevitável. Estamos todos pré destinados a morrer enterrados assim, tão mediocramente, tão sem experança e consciência de nós. Ansiamos sempre, segundo a segundo, que uma mão nos puxe da terra, rompa a areia, salve-nos e nos leve para um lugar melhor. E crentes, detorpamos o céu e a terra e movemos montanhas, até que mesmo submersos conseguimos ver o que não é. Morremos lentamente... lentamente.... cada vez mais fundo, a cada instante movemo-nos para um inferno vego, vagarosamente, sem luta, sem força, sem vida. Deixamo-nos ir com a corrente leda e morremos. Como eu. Enterrada viva.
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