quarta-feira, agosto 3

Melhor amiga.

Não, não gosto de ti. Já desfiz as rendas do meu coração para perceber... se gostava do que vejo na janela dos teus olhos... mas a música que voa do teu lar é feia ao meu tacto, e não, não gosto de ti. Mas olha... gosto do que te rodeia. Gosto dos tijolos vermelhos que te compôem. Gosto da pedra sobre pedra que te mantém unida. Gosto da força de vida que tens, que prendes, que dás. Do jogo de sensações em que te envolves. Gosto do teu bairro, da cor das tuas paredes. Da tua porta fechada mas janela aberta. Gosto do facto da porta ter estado sempre realmente fechada, e o mistério das suas aberturas deixa-me em constante espectativa por rachas de luz vindas da tua sala de estar. Gosto da tua janela sempre aberta, das cortinas de renda azul-prateada, no parapeito recheada de flores rosas e amarelas, amores perfeitos, alguns já murchos. E aprecio mirar-te da minha casa, sentada na tua cadeira de baloiço: pra frente, pra trás, pra frente, pra trás... numa teimosia absurda eternamente. Não gosto de ti, mas gosto do teu segredo. Gosto do teu mistério. Gosto da tua mansão do tamanho de uma formiga. Adoro-te porque eu não te entendo, e tu não me entendes. Mas serás para sempre, a minha melhor amiga.

1 comentário:

Português desiludido disse...

Gosto e não gosto....Não gosto e gosto! A vida também é feita de gostar e não gostar....
Pedro