Natalofobia
Daqui a 5/6 dias é o Natal. Nas ruas, brilham as luzes decorativas, as árvores, cintilam os enfeites. As crianças sorriem e saltitam de um lado para o outro entre as montras das lojas de brinquedos e supermercados. Gente, gente, gente em todo o lado. Os últimos dias para comprar os enfeites, a comida, as toalhas de mesa, para limpar a casa, arrumar a sala de jantar, montar a árvore. Os preços! Os preços! descontos, ofertas, prendas. As compras. Crianças. Meninas. Bonecas, barbies, nenucos, casas de bonecas, casas da barbie, casas de nenucos, roupa para todos, princesas... Meninos. Action Mens, Carros, armas, jogos com action mens, carros e mais armas. Furby!!! sim, sempre quis um furby... Para quem tenho de comprar prendas? Uma, duas, três, quatro, cinco, seis... ai e o que compro? lojas, lojas, lojas, lojas, gente, mais gente e mais gente... prendas prendas prendas e "piiiiiiiiiiiii"... "O saldo disponível no seu cartão não é suficiente para efectuar a operação pretendida". Agarro-me aos últimos tostões. Solução: Lojas do chinês e de um €1,70. Oh tão giro... tão lindo... é a cara dela... não é a cara dele, mas tenho de lhe oferecer alguma coisa. "trimmmm.... trimmmmm.... Sim, Está lá? Já compraste a minha prenda? anh... ok... sim... xauxau..." Oh não... ele comprou-me uma prenda. Ele é rico. E agora? Gasto o que não tenhho. Chego a casa aliviada, mas stressada - sim é possível. Ainda tenho de por as luzes na varanda. o pai-natal na janela. Ok... agora... comida. Peru, bacalhau, entradas, vinho tinto, camarões, bolos, bolos e sobremesas de todo o tipo (dia 24 fica reservado para cozinhar) e... claro tenho de comprar uma roupinha nova... ir ao cableireiro... tenho de estar bonita... e as crianças que não se calam "O que é? O que é? dá-me pistas!" pistas, pistas, pistas! Depois da festa de natal, não falam de outra coisa, sobem a cadeiras, trepam armários, fecham-se em baús. Prendas! Prendas! Prendas! Chega o Natal. Todos sentados a mesa, perfeita, onde os copos de cristal (comprados às prestações) e o faqueiro de prata (Que ninguém sabe bem de onde surgiu) cintilam. As cortinas combinam com a toalha de mesa, os arranjos iluminam o ambiente e as entradas pouco a pouco desaparecem, numa conversa qualquer sobre política. Falamos.... da situação económica do país. É que me revolta a sério. Dizem que o país está pobre, está pobre, mas depois gastam montões de dinheiro no natal, nas coisas menos importantes, mais fúteis e efémeras. Que falta de responsabilidade! Que hipocrisia! Há tanta gente que não sabe o que é ter dificuldades a sério, como eu...
A noite acabou. A casa está toda por arrumar, as crianças gritam porque não querem ir para a cama. Só mais cinco minutos... só mais dez minutos. Dez dias depois os brinquedos perdem a graça. A noite acabou. Os armários estão repletos de pequenas coisas. Tenho de as embalar e jogar fora. A trinquenagem esconde-se de baixo do sofá. Os bolos em taparueres. Arruma, arruma, arruma. Ah, o que eu gosto mais no natal é esta paz. Quando acaba.
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