Amor à distância
Há que ver que quando estou perto de ti
Todos os meus passos são para te irritar
Para te ver destruir mais um pouco a minha concepção de lar
(se é que ainda a tenho)
Quando estou perto de ti, imperador
A única coisa que quero causar-te é dor
Quero ver-te bater a porta e sair para te matares
Quero que bates o que mais quero é ouvi-te gritar
E que te voltes contra mim com os teus olhos bem abertos
A gritar porque sou assim e não como tu querias
Quando me aproximo de ti
Só quero fazer-te sofrer
E fazer todas as pessoas sofrer
O clima da casa ruir
A tua mão partir. E melhor: o teu coração!
Nenhum de nós pensa noitra coisa
Como fazer-te irritar melhor?
Vem ela e diz... vamos lá por água na fervura... doçura, doçura doçura... para fingirmos que somos uma família.
Ela estremece talvez porque também tem medo.
Mas finge que não, porque é a cola da familia.
Pouco a pouco, tu tornas-te o ácido. Mas a culpa não é tua. É nossa, porque falamos; e a liberdade de falar em casa é tua, e a nossa vontade é só irritar-te. A culpa não é tua: é minha por tentar dizer em voz mansa que talvez não seja bem assim. A culpa não é tua: é dos políticos, da terra, da chuva, de Deus. No fundo só achas que a culpa é tua. E matas-te devagarinho.
Não podes falar na tua própria casa? Eu também não. E quando falo tenho de pedir desculpa para por água na fervura. Depois, sou eu que fervo, que ardo por dentro. Os ataques, estes ataques que me fazem tremer o corpo e o coração querer saltar-me da pele, e os olhos vermelhos, e as palavras vermelhas de vergonha por nem sequer terem a coragem de sair à tua frente. Não é metáfora. Enquanto tu foges nas rodas eu agaixo-me no quarto. E vem ela "calma... pede desculpa"
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