terça-feira, maio 30

Diz-me que não é verdade. Finge, ao menos. Mas não nos deixes cair, assim tão facilmente, nos delírios certos de tanta certezas!
Porque temos de ser certos? Constantes? Estáveis? Porquê Responsáveis?
Em que conta entramos nós, variáveis binárias com um sentido exacto e único?
Porque temos de ser apenas números?

Quantas vidas cabem numa estatatística de normalidade?

Não nos deixes partir para um mundo tão bruto como as ciências. Não nos peças que estudemos, e que cresçamos, não nos implores que compremos casa, e carro, e computador, que tenhamos filhos contigo!

Não nos invoques em dogmas. Não te ajoelhes implorando que todos os meses tenhamos uma agenda certa: um horário certo, um salário certo, a monotonia da estabilidade.

Não nos condenes a sonhos que não são nossos, não nos acalmes as almas sem deixares que elas tenham tido o prazer da liberdade, o prazer da dor quando o castigo decorre de uma escolha nossa.

Deixa-nos fingir, (mesmo com o receio consciente de cairmos na rotina de séculos de mundo) que podemos pensar o que quisermos, ser o que quisermos, parecer o que quisermos: e abrir a bouca gritanto a todos os ventos de ti e de nós o que somos.

Deixa-nos ser, assim envergonhados porque provamos a cada dia o fruto do nosso destino.

Não nos imponhas, vida, outras coisas se não aquelas que o nosso coração dita e a nossa alma verte.

E deixa-me fingir que sou inocente e que sei que vais deixar-nos ser.

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