Pintas de sonhos no branco dos teus olhos
Em que dedo do pé e que ficaram os teus sonhos?
Quando o conheci, ele tinha algo... como se fosse alguém em desfocado nele: um mistério daqueles que nos prendem até ao último fôlego! Sim, era lindo. Era uma luz de marmore branco nos ladrilhos azuis! Era aquela pele que os olhos devoram com a língua... Percebes? Claro que sabes.... Ele era (foi) aquele primeiro amor que não é bem o primeiro e é ao menos o último que fica atrás de alguns. Não fazia sentido e não precisava de fazer sentido: eu não precisavade fazer sentido quando estava com ele, só precisava de deixar as palavras fluir como se o ar as seduzisse aos seus ouvidos. E era mais que isso. Eram as conversas que caiam na areia, davam a volta ao cercado do mundo e afundavam-se num poço estrelado. O mundo andava às voltas, como se caminhassemos numa gota daquelas que nos envolviam. Queria mais, e mais, e mais. Era tudo tão instantâneo e pocesso que seria impossível terminar? Não haviam defeitos se não os que amava com um sorriso. Os beijos escondiam-se húmidos entre as estrias dos lábios dele. E fora dele, dentro dele, aquela áurea de extraordinário tocava-me como uma dupla pele ainda mais suave... Era tão doce que nem me lembro de mim na altura, como se me tivesse por dias tornado ele. É verdade que o amor dura para sempre, mas nem sei se o que sentia por ele era amor. Não era. Simplesmente eu via-o. Será possível? De todas as pessoas do mundo, aquela era a única pessoa que eu via. Mas não com o ver que vemos toda a gente, era como se lhe visse as cores, o canal praeado que o deixava voar. Não me lembro do dia em que fiquei cega, mas ja não o via há muitos meses. Tinha medo de deixar fugir os meus olhos com ele, e por vaidade fiquei com eles brancos. Agora não sei. Estarei mesmo cega? Porque os meus olhos vêm três cores de saudade, mas perderam o rasto aquele espelho de magia do seu olhar. Ou será porque o olhar dele é esquivo demais para a gema gasta do meu? Talvez seja isso. Achas que é isso? Será que como a vida, também este milagre definha? Sabes, não importa, porque foi a melhor sensação em que algum ser me abraçou, romanticamente. O romance em mim sobrevive a dias menos próprios, a inocência que tanto estimo esboça sardas na minha bochecha.
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