70 anos, 7 dias. 10 horas e 4 minutos

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Tinha só mais cinquenta anos de vida. Não era o suficiente, não podia ser. Porque contabilizando os passos que ainda ia dar (aqueles que aproximadamente tinha certeza) esse tempo não lhe deixava tempo para aquelas coisas que queria mesmo fazer - pequenas coisas fora da rotina de anos de todas as pessoas à face da terra. Apenas coisas estúpidas que ocupavam mais espaço que o pó entre as articulações. E recontava, repensava todos os segundos dos seus dias futuros certos: mas a soma de tudo até era maior que o prognostico de vida. Os seus olhos incharam de um volume salgado enquanto o lábio inferior tremia, e mirou o velho médico que se entrepunha entre ele e a porta, ainda com aquele sorriso patético e dentes cravados.

- O que se passa, acabei de lhe dizer que viveria mais 70 anos de vida! Não há nada de mal consigo!

Foi então que rebentou em lágrimas que se projetaram deliciosamente pelo ar, em câmara-lenta. E naquele segundo impossível, desgostou a realidade e assumiu. Chegaria aos 70 anos certos, contados. E apartir daí teria exactamente 7 dias, 10 horas, 4 minutos e dois segundos para concretizar todas as pitadas minúsculas de desejos felizes.

A raiva dele era palpável quando o coração abrandou o ritmo e finalmente parou n seus pequenos olhos verdes (coberto pela pele descaída e as rugas) fitaram pela ultima vez o teto branco do seu apartamento.

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e quando?