quinta-feira, junho 15

No cesto do papel

Ele nem sempre sabe que palavras usar - só sabe que as palavras (soletradas ou não) têm muita força e por isso usa-as como o gatilho da sua consciência. Ele não sabe, é verdade. Mas felizmente, a tinta azul da esferográfica tem-nas muito bem decoradas e desliza sobre elas nas listras do papel. A sua auto-estima também escorrega pela tinta, e nem sempre tão certa como a caligrafia, mas até são aquelas palavras seguras que o seguram aos sonhos e ao chão: sim, o ritmo da escrita, o ritmo de fundo: são a gravidade da sua existência, e o sentido de tudo. Tem um medo leve das pessoas que enfrenta todos os dias, e das mentiras e receios que guarda em pérolas de ostra. E os olhos negros fixos nos corpos musicais das meninas que passam no seu passo colorido e saltitam de pé em pé. Ele nem sempre sabe quantas palavras indicar a cada uma, apesar de sairem à priori dos seus poros, encantadoras como chocolate dado sabor da sua pele. Não pensem que ele é fraco: guarda nas cicatrizes a lembrança de rivalidades, de preconceitos, de toda uma vida contra ele. De toda uma cultura. E acarinha com beijos o conhecimento que absorve pelas sensações de todos os dias. A sua vida é uma constante guerra mergulhada em lágrimas e sorrisos sussurrados.
Adora a inteligência delicada dela. O seu corpo delicado e curvas subtis. A sua pele demasiado branca, os seus olhos demasiado honestos: a sua alma demasiado linda para existir no toque da face com a sua pele escura. Adorava a amizade dela, até descobrir que não era suficiente. E ama-a, numa trama de raparigas a mais e sinceridade a menos, tanto para com ele, como para com ela. Porque ele nem sempre sabe que palavras usar, mas a elas, nunca lhes mente.

E só a elas disse o quanto a amava

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