Porquê que falaste?
"Shhh" dizia ela, falando baixo demais - Não digas nada! Não digas nada que eles ouvem...
Ele não sabia de quem é que ela falava. Mas deixou-se embalar pela espuma das ondas do mar, e pelo som dos pinheiros ao vento. Nenhum deles proferiu uma palavra, até que a noite fugiu e as estrelas se esconderam atrás das gaivotas. O ar cuspiu um rosa ácido que inundou o céu, e finalmente o azul turqueza trouxe uma brisa quente e abafada de verão. Ainda sentia a cor do vinho a acariciar a sua língua, e tinha medo de a beijar. Tinha medo que os pequenos movimento do seu peito, ou o latejar leve das veias do seu pulso perturbassem as moléculas do tempo. Não queria passar dali. Queria morrer, se fosse preciso. Nem se importava que não acontecesse nada de mais - só o seu olhar, a sua pele, o seu cabelo: só ela lhe bastava para viver.
Como era ridículo. Como a lucidez o fazia ficar, pouco a pouco, consciente da sua embriaguez de amor, da excelência da sua idiotice. Levantou-se e disse - Não aconteceu nada. Só silêncio, e dedos enlaçados, e beijos invisíveis até ao mais perspicaz dos mortais. Levantaram-se os dois e caminharam de mãos dadas, como um qualquer casal de estrangeiros na praia da sua infância.
Mas ele sentiu-se preso. Ela viu-se prisioneira de uma praia, e de lembranças de vazio.
Eles sentiram-se distantes do que tinham inventado entre as dunas e os grãos de água.
Nem foi preciso dizer "adeus".
Na verdade, a vida, e as árvores, e as ondas escutaram-nos.
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