sexta-feira, junho 2

Um sonho por hora

Primeiro, foi um silêncio amargo e frio, áspero; que lhe cortou as pontas da alma e o resto da frase. Arrependeu-se tanto que as palmas das mãos aqueceram a relva e a terra por baixo delas. E ele não sorriu, não se indignou, nada. Só silêncio e os seus olhos invisíveis, meio-cobertos pela penumbra e rasgados pelos cabelos castanhos, pingando-lhe no rosto. E depois, algo mudou nos seus olhos, mas foi só um brilho circular diferente! Até que os seus dedos voaram para os lábios dele, que inesperadamente quentes beijaram-lhe as unhas, e a palma deslizou para o seu cabelo encharcado. Ficaram por poucos instantes assim, até que correram um para o outro, ou deixaram simplesmente de lutar contra aquela força que os impelia a tocarem-se. E as respirações pesadas de ambos arrepiaram-lhe a pele, as mãos perderam-se entre as suas costas; as pernas estenderam-se na terra fria como se numa cama de seda (os beijos, as linguas cada vez mais insaciadas na boca deles) foram os lábios que percorreram o suave pescoço dela e desapertam o vestido sem costas que foi escorregando até se enrolar nos pés. Os pés e as pernas guiavam-se por um serpentear apaixonado: e sentia aquelas mãos calejadas e doces acariciarem-lhe os ombros! Só um pouco mais... pouco mais e acordava.

Mas não, sonhou a noite inteira com ele. E o dia seguinte, até que a realidade os separe.

1 comentário:

D@s Pl3ktrüm-/v\ädch3n disse...

Será a realidade que os separa? Será ele e ela, ela e ele, os dois e mais ninguém? Somos tao complicados.