Desejo
O mar absolvia todos os pequenos movimentos do seu corpo, as pequenas correntes e bolhas a deslizarem-lhe pela pele lutando pela liberdade da superfície. As pernas nuas desenhavam círculos na água transparente e parecia-lhe que caminhava na lua. Mas o sol brilhava lá em cima e iluminava os movimentos da espuma, que se desfazia suavemente contra o seu peito arrepiado. Quase que lhe parecia (quase) que os poros eriçados da superdície da sua pele não eram mais que mini-explosões suaves da excitação que lhe vibrava atrás das orelhas, e nas pernas, e no umbigo... Era como se um toque só pudesse desencadear um beijo; e a um beijo renderia o seu mundo. Os cabelos de sereia que se encaracolavam e se moviam deliciosamente como quadros a carvão serpenteavam e parecia-lhe que gozavam com o seu extâse fininho, o seu desejo sem perdão. Saiu da água o mais rápido que pode, lutando com a luta silenciosa com as pedras ásperas e a areia cortante; ouvindo por fim o deslizar de conchas quebradas numa música infernal. Não, nunca.
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