quarta-feira, setembro 13

É verdade.. o mundo caiu ao chão e partiu-se

Bateu à porta devagarinho, e a sua mão gentil repeliu a porta sólida. De dentro do quarto abafado, uma voz arrastada e rouca disse baixinho...
- Entra Sofia,
Empoleirando o bracinho frágil no puchador de diamante, engoliu a seco. Enquanto caminhava cabisbaixa pelo tapete rosado do escritório, acariciava o embrulho que trazia na mão direita. As pequenas lágrimas aglomeravam-se nos rebordos do olho, e à medida que se aproximava da mesa (e do certo castigo) comprimia os lábios para impedir o choro. Quando o pai levantou os olhos do portátil com aquele brilho impaciente, quase se arrependeu. Mas não. Endireitou o tronco, e depois de hesitar duas vezes estendeu o embrulho. Era uma toalha de banho amarelada, cheia de borbotos e pequenas manchas castanhas. E o vulto que embrulhava devia ser... redondo, sim, como uma pequena bola: do tamanho de uma boneca de pano! O suficiente para uma criança de 5 anos abraçar com toda a extensão dos seus braços.

O homem estendeu os braços desconfiado, enquanto sofia tremia com o copo tenso e os joelhos bambos. Desembrulhou até que do lado esquerdo do embrulho cairam algumas gotas de água, que fizeram um som estridente ao bater no chão, como pedaços de espelhos a quebrarem-se. Depois cairam pequenos tufos de relva e flores, sujando as mãos do homem que continuava a pesquisar o conteúdo da toalha. Mas foi quando já quase se conseguia avistar o contorno dos continentes que milhões de gritos agonizantes saltaram do globo e chocaram inoportunamente contra as paredes, fazendo estremecer os livros das estantes. O Homem apressou-se a cobri-lo novamente e olhou furiosamente para Sofia. Esta, em pânico, abriu a bouca magestosamente e gritou palavras imcompreensíveis coladas com a baba e o sopro de arrependimento.

- Desculpa! Desculpaaaaa...

(pensei ouvir enquanto a menina chorava) Mas o homem rapidamente corrigiu a sua pose e vendo a criança num desgosto tão grande sorriu simpáticamente. Rodeou a sua mesa de trabalho e colocou-lhe a mão sobre o minúsculo ombro. O choro parou imediatamente, e os grandes olhos verdes de sofia paralizaram.

- Não foi por mal, a sério papá, acreditas? Acreditas? Não o tinha visto ali e enquanto brincava... Ai desculpa! Bati-lhe sem querer e partiu-se logo! Nem consegui... colá-lo de novo...

Já era de noite, horas de ir para a cama. O homem tinha mesmo pensado que Sofia lhe tinha ido dar o habitual beijo de boas noites...! E foi assim que se apercebeu que a honesta criança tinha passado toda a tarde, se não todo o dia, a tentar concertar o globo!

- Foi sem querer... é verdade, acreditas? Foi só um instante e puff...! O mundo partiu-se!

- És uma boa menina. Ele já estava velho e gasto de qualquer maneira... Vai dormir, não de preocupes... Eu deito-o fora sem a mãe ver.

A rapariguinha sorriu e esvoaçou correndo pela sala fora, com o vestido de seda cor de rosa esvoaçando atrás dela, numa felicidade absoluta. O homem pousou o planeta na mesa e olhou pela janela. E agora, o que seria de todas aquelas pessoas? Deixou-se levar pelos seus pensamentos, apagou a luz e dirigiu-se ao quarto de dormir.

Sentada na fechadura da porta, olhava para o meu pequeno planeta, abandonado na mesa e a sangrar pequenas gotas de vida para a carpete.

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