quinta-feira, outubro 12

Bons dias, amor!

Encostado ao bar, Bruno bebericava a sua vodka-limão enquanto apreciava as vistas. Junto ao balcão, duas rapariguinhas (realmente não se lhes podia chamar outra coisa, com os seus ganchinhos cor-de-rosa e mini-saia de estrelinhas brilhantes) saltitavam enquanto pediam uma groselha. A pista ainda estava vazia - era cedo demais - e nem sequer os seus amigos tinham chegado. A um canto conseguia avistar uma morena com um top de costas abertas, que deixava ver a sua pele plana e aquela magnífica curva no fim das costas. Movia-se de uma forma sensual enquanto se ria deliciadamente das piadas do seu companheiro. O que menos gostava nela era, concerteza, o cabelo curto e liso. Assim se passaram mais ou menos vinte minutos, que foi quando Ela entrou. Primeiro, nem lhe conseguiu ver a cara, escondida por entre a sombra das luzes da discoteca. Só lhe sentiu o movimento, o perfume que exalava de uma surpreendente cabeleira loura que saltava do casaco de pelo. Quando o despiu, e caminhou lentamente para a pista, viu-a como se vêm as visões, como se vêm os milagres. A cada passo, descobria mais um centímetro dos seus pés pequenos nuns saltos finos, as suas pernas esguias e da sua cintura adorável que o vestido negro comprimia. O decote atrevido que descobria a silhueta dos seus seios perfeitos, e os seus cabelos: sempre os seus cabelos dourados que caíam em madeixas sobre uns ombros bronzeados até ao ponto certo. Pediu uma bebida (indecifrável) sentou-se no bar. Conseguiu por isso acariciar (com os olhos pasmados) os lábios carnudos pintados de escuro, o seu rosto puro, as suas pestanas grossas que escondiam ao certo os olhos mais bonitos que já vira. Enquanto percorria todo o seu corpo, nem reparou no tempo que passava, uma electricidade percorreu-lhe todos os pelos do corpo e um auto-confiança nunca antes vista impeliu-o contra ela. Dançaram toda a noite, as costas dela coladas ao seu peito, podia sentir o seu corpo ondulante e o pescoço esguio, o perfume forte que o chamava de dentro do vestido, a língua que serpenteava um brilhante. Era perfeita, e quando uma vez ou outra parava para fumar, fazia-o da forma mais sensual que já tinha visto, talvez como aquelas damas dos anos 30 que fumavam cigarrilhas. Passaram-se as horas, os amigos vieram e foram-se embora, entediados pela sorte dele. E no fim da noite, enquanto ela lhe dava boleia para casa, perguntou-lhe na sua voz rouca e baixa se não podia passar aí a noite, já que tinha bebido demais para conduzir até casa. O resto, já se adivinha. Enquanto ele preparava (inocentemente) a cama dela no sofá, ela surgiu numa lingerie rendada e preta, os seus seios excitados a transparecer na gaze, ainda com os mesmos saltos. Amaram-se primeiro vagarosamente, beijando-se profundamente, e depois as feridas da paixão cresceram-lhes nas costas entre gemidos estonteantes, e os seus olhos safira que perfuravam até à alma.

O sol brilhou no dia seguinte, como á muito não brilhava. Iluminou a cara dele meio escondida pela colcha. Sorriu, e virou-se lentamente para a adimirar, quando...

Olhou para a criatura deitada ao seu lado. Uma das pestanas era visivelmente mais saliente que a outra, e percebia agora que eram postiças (a outra estava pendurada no seu queixo borrado). Os cabelos louros perdiam o seu volume, e encontrou espalhadas pela casa diversas madeixas dele, que eram de uma textura plástica de peruca. Quanto ela acordou, se pudesse desconjuntar-se tinha-se quebrado inteiro e caído ao chão de susto. O seu cabelo desgrenhado caía aos poucos (resultado da violência da noite...) e os seus olhos eram de um castanho comum, louco. Vinha a ajeitar os pedaços de siliconte que lhe sustinham os seios naquela forma, e a base desgastada revelava agora imperfeições inumeráveis, sinais negros, acne, e algumas covinhas estranhas. Perguntou-se se seria um sonho. Um pesadelo! E quando falou, a sua voz, baixa e rouca transformou-se num tom irritantemente agudo, em que disse (mais alto do que deveria) - Bons dias Amor! - e correu (muito mais baixa, e algo mais reboliça) cobrindo-o de beijos pegajosos que o deixaram em caimbras.

E os amigos perguntavam-se porque não respondia aos milhares de chamadas e mensagens que aquela loura estonteante lhe deixava todos os dias no telefone.

4 comentários:

Alexx M. disse...

Grande história, grande final. A brilhante conclusão: As aparências enganam, as pessoas só vêem o que querem ver...

Gostei ;)

SuntoryTime disse...

Ahahah adorei

D@s Pl3ktrüm-/v\ädch3n disse...

Brilhante =) hehe Ensinas-me a escrever assim tb? ;)*

belchi disse...

Serás humana quando escreves?, quando gritas palavras soltas ou frases articuladas?
Serás?
Quando sentes como sentes para mais nos fazer sentir?