Falar demais

(Ao excluído)

Enquanto miravas, do teu posto estático, as correntes de ar da sala aberta, eu pensava:

- Quem me dera poder engolir-te mentalmente.

E por mais que esta analogia te choque, te faça sorrir de paciência e chorar com a infantilidade rala, diria ainda mais:

- Quem me dera poder agarrar nas mãos essa fragrância que te adorna o cérebro.

Mas na verdade não disse. Continuei a falar, incansávelmente, e discutimos como loucas (eu e ela) cobrindo-te de um manto gaze à medida que não respondias. E no entanto, só com o olhar dizias mais do que qualquer uma de nós em discursos inflados ou gritinhos apaixonados. É estranho não é? E agora, ao fim da noite penso na sorte que foi conhecer-te, com esse teu ar intelectualmente divertido e sériamente maduro. É que és mesmo daquelas pessoas que eu sinto que valia a pena ter deixado falar..! Então pensei, enquanto bocejavas porta a fora:

- Se alguma vez te voltar a ver... hei de me calar.