Deja vu
Subiu em espiral, da palma dos pés até ao céu do cérebro - tão rápido que uma tontura leve balançou nos meus olhos. Confortável não era a palavra - picava-me a espinha e balançava a cintura. Ontem não é suficiente para descrever - ou não é, de todo, verdade. Era só um deja vu. Já te vi, será que devia ter dito; Já te vi...! Mas doce não era a palavra, antes suave. Abraçou-me as maçãs do rosto e lambeu-me o céu da boca, com sabor a nuvem, enquanto passava, ignorando o meu choque. Já te vi! - devia ter dito - Já te vi! - Mas os deja vus têm essa propriedade estonteante, de nos petrificarem quando o corpo ainda mexe. O que é que posso dizer? Ninguém controla o cérebro, e muito menos o destino. E menos ainda as escolhas de um tempo que não existiu se não isolado numa bolha de milho. Numa bola de sabão prestes a deixar como rasto só pequenas espumas no chão, no canto da boca; aquelas lembranças pintadas a limão que trepam o alcóol e... Não posso evitar pensar, fechar os olhos e evitar pensar mais; enquanto o deja vu sorri do outro lado do real.
Já te vi por algum lado não vi?
Mas quando perguntei, a sensação de desconforto já tinha passado.
Tinha ultrapassado a multidão.
Que interessa? Não foi ontem, não foi hoje;
E de certeza não será amanha.
Porque o deja vu só existe por breves momentos, condensado entre a minha pele e o resto do mundo.
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