Leio na tua bouca ferida
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Pulvis et umbra sumus.
Horácio, Odes.
Leio na tua boca ferida
pelo pó que trocámos
a luz da febre vivida e já dissolvida
no ar. A nada
pertenço nem coisa
alguma me pertence - sou um breve
coração despedaçado: um fio de viola
que se quebra
no ar não impede
a boca de cantar
antes de se perder
nos espelhos. As águas da manhã
retiram-se comigo;
vamos para o sul
com a chuva e com as tristes
folhas que se exilam nuas
das árvores
e do ar.
in Livro das Quedas, Casimiro de Brito, pág.43
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