domingo, abril 30

7 abraços e um sonho

Oh meu amor... quando te vejo assim sentada (delicadamente, como uma dama) com o teu nariz cor-de-rosa e um olhar verde-amarelado poisado em mim, não consigo deixar de pensar... será que pensas? Porque a verdade é que tu não falas (comigo, pelo menos). Simplesmente murmuras qualquer coisa baixinho de vez em quando e eu lá te sigo, antevendo os teus desejos enquanto me conduzes a eles. E à noite, quando o frio aperta, sinto o teu corpo a tremer nas minhas costas e novamente a tua voz mansinha. Mas não dizes nada.
Não sabia o teu nome, e como és silenciosa, não me disseste. Tinhas medo do escuro e da luz; das vozes, dos trovões, do mundo todo à tua volta. E quando te vi pela primeira vez nem te (me) disse o quanto eras parecida comigo. Na verdade, também eu tinha medo de todas as coisas. É tudo tão grande não é? Tudo tão vasto...! Tudo tão maravilhoso, e poderoso e... assustador. Tanta vida, movimento, sons, sabores! Tanto silêncio, ausência, monotonia, morte. Tantos contrastes que mordem a mão de quem os alimenta... e também tu te escondias, como eu, de baixo de algumas caixas de cimento estrategicamente colocadas num ponto seguro do quintal por alguma entidade fatal. De ti, pouco via sem ser os teus olhos brilhantes e terror eriçado. Quando me aproximavas, gritavas qualquer coisa numa lingua estrangeira que entendia (tal linguagem universal) ser um aviso: ninguém se aproximava de ti. Estava a poucos centímetros, mas não trespassaria jamais a tua jaula voluntária. O medo era sempre mais forte. Passaram dias e por vezes via-te e lá alguém te levava comida.
Não, agora já nada disso importa. Vieste e tornaste-te uma espécie de equívoco opurtuno, alguns momentos em que podia ser eu, e onde (num universo paralelo) realmente escutavas todas as minhas poesias atafulhadas e dúvidas viçosas. É idiota, e tenho completa noção disso. Ou talvez esta seja a minha desculpa para ti, objecto da minha insanidade. Mas és o meu refúgio, e o meu sonho. A vida dos homens tem que ser feita de sonhos carinhosos, sejam eles tenvoltos em religião ou matérias sobrinhas. Ainda não tens nome, mas já tiveste muitos. És uma donzela, uma princesa, o meu amor. Não és só algodão: és vida, e um dia como tudo: serás morte, e lembrança. És sonho: o meu sonho.

Disse uma vez um homem sábio a outro homem não tão sábio [que me disse a mim] que para uma pessoa ser saudável precisava de pelo menos 7 abraços por dia. Eu acrescento que cada pessoa para ser saudável precisa de pelo menos um sonho. Os sonhos são a forma que a vida tem para nos abraçar, por vezes.
O certo é que tu também não gostas muito de abraços pois não? Também, não és pessoa.

1 comentário:

Alexx M. disse...

Lindo, amei!
Neste mundo vasto e poderoso e assustador e tb consumista e calculista, os abraços e os sonhos são das pcas e raras coisas k ñ pagamos ainda... São coisas k são nossas e k podemos dar ou receber sem k para isso haja negócio. Fazem parte da alma...
Gosto de abraços. E gosto de sonhos tb...
:)***