Little black tear
No desflorar das lágrimas, era só mais uma. E era, afinal, só mais uma partícula daquela apatia dolorosa que lhe electrificava as articulações. Primeiro, espreitou por entre os veios escuros dos olhos castanhos, e depois abriu caminho no olhar ventoso; escorreu pela cara, devagar, deslizando e pintando de negro-pálido a sua face amarelada. Era óbvio que não era uma lágrima qualquer. Não só aquele calor que lhe congelava o coração, mas a borboleta vaga que desabrochava no seu peito, que estendia as asas às faces da sua mente e lhe beijava enojadamente a cintura. Eram palavras vazias, sem som, sem eco, sem sentido: sem existência sem ser numa pauta invisível que se elevava na respiração cada vez mais barulhenta. A pequeníssima lágrima negra cobriu-lhe todo o corpo de uma frigidez apática. E tentou sorrir, a sete palmos da realidade. Mas desejou demais. E dessa noite, ficou apenas a mancha magoada na malha do casaco.
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