segunda-feira, outubro 30

Tenho medo de ti. Quando saio à rua, mastigas cada passo apressado; e engoles, amarrotado, o último segunto da minha rotina. Já deixei de contar as palavras que não leste, escritas nos meus olhos, ou pior, aquelas que o meu cérebro grita e que agonizam entre os dedos dos pés. Tenho medo da tua compaixão intemporal, das tuas razões e dos corações que deixas esmigalhados pelo caminho. Medo dos teus nomes racionalizados e da tua inteligência sem limites, da tua noite finita, do teu oportunismo optimista. Quem é que te permitiu a ti, que possuis tudo, roubar tudo o que tinha quando não existia? Porque agora que existo, e tenho uma consciência brutal do peso azedo dessa existência, mas não a extensão da inteligência para a compreender, como é que é suposto viver? Que condições é que tenho de me definir a mim e ao mundo e viver connosco? Tenho medo de ti, porque esqueceste-te de me dizer que a benção doía tanto.

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