Tu não entendes. Ele não espera por nós, ele não espera por mim, por ninguém! Ele corre devagarinho, corroi-nos os abraços, os beijos, os laços e as eternidades que tu garantes num punho vazio. Ele transforma o rio em chuva, e a chuva em lago, e o lago em mar - acreditas que não aborta um leve gostar em esquecimento? Ele lava-me a vida e quebra-me a pele em pequenas vagas de luz; desenha-te a morte nas quedas de cabelo, faz com que a dor despenhe em poços e os troços da vida se descruzem num momento só. Tu vês como a vida é mudança - mas nem só te arrasta de velho a criança, muda não só o que te rodeia, mas até à última veia dos teus sentimentos! Não me prometas futuro para me dizeres como não sentir agora. Ele não espera racionalmente... É cego, surdo e mudo a todas as linguagens. Porque o amanhã pode nascer do outro lado do mundo, para variar. E eu também.