quarta-feira, janeiro 3

Ridículo

És Patética (Sou.)

Cospes as palavras e deixas que se solidifiquem em edifícios estáticos (e derrubam a imaginação.)

E depois? (Julgo a realidade por janelas tão opacas, que ela própria se torna mais física.)

Não... as palavras para ti, não são fumo... que expeles em espirais smi-transparentes dissolvidas em universo - não são o fumo abstracto que se transforma no ar em disformidades - são mais que ar - são jaulas. As palavras que cospes são jaulas (São prisões.)

Mas as palavras são tão livres como o... (forço-as a deixarem de ser palavras... passam a ter uma força que, enquanto corriam nos prados atrás dos olhos, era uma força... subtil?)

As palavras são livres. És tu que as moldas em prisões (Não...)

Explica. (Cá dentro, as palavras não são palavras. Ou então, eram aquilo que deveriam ter sido, se o homem não as tivesse soltado. Cá dentro, as palavras não têm forma. São fumo, perfume, vapor. Não têm composição química, nem regra, nem lógica - e muito menos os pés no chão. Cá dentro as palavras são imagens, e cores, e doem ou dão tanto prazer como o real, as ao mesmo tempo são maiores, maiores que as coisas, maiores que eu! E depois, quando tudo parece estar certo, cá dentro, resolvo dizê-las. E algures, entre o espaço húmido e quente do espírito, e as correntes de ar do exterior, as palavras solidificam. Quando... passam pelos buracos dos dentes. Vêm cá para fora, e têm mais de mil sentidos do que aqueles que lhes dava, são fortes, mal-entendidas e não são.. o que queria dizer... ou o que queriam dizer cá dentro. E são gerais de mais, específicas de mais, infantis demais. Fazem outros chorar, fazem outros rir... e dão um espelho ridículo de mim, que sou eu como sou, mas como não sou cá dentro. Cá dentro imagino-me a rasgar a pele, o som da pele a separar-se rapidamente, da testa abaixo do umbigo, a cair pesadamente no chão, e as palavras a voarem, como elas são. E penso, se essa seria a única forma de transmitir exactamente aquilo que quero dizer. Então, cá dentro, eu já sei quem sou.)

Mas cá fora, sou a prisão que, sem querer, obrigo as palavras a edificar. Cá fora, já não há palavras desenhadas, nem coloridas, nem com sabor. Só metafóricamente. É tudo isto, ou aquilo, e depois de dito, mesmo que perdoado, a memória e o orgulho não perdoam.

Por isso sou ridícula. (Pois és.)

Ou será patético o que quero dizer?

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