segunda-feira, agosto 9

O Amor

Para mim, é um dos maiores mistérios humanos. As verdades e as não tão verdades (os enganos) desta palavra que nos habita a mente e sobretudo o coração, que nos acompanha no dia a dia pela televisão e tudo o que nos rodeia.Muito foi já dito sobre o amor, disseram que era paixão e gritaram-no aos céus, ou envolveram-no nos mais puros véus de seda. Banalizaram-no em canções de amor de todos os tempos. E adoraram-no em momentos privados, ocultos em estudos direccionados a perceber até que ponto vai a patética mania humana de não prescindir do amor. O que é o amor? Tantas vezes foi já esta pergunta feita. Por mim, por poetas, escultores, pintores, aqueles que tudo e nada fazem. Por eles e por ti.Contaram-me que amor era desejo. Que ardia em cada poro, que era a lágrima que choro por não poder tocar-te e o sorriso que esboço só ao vislumbrar o beijo no qual amar-te é o meio e o fim. Depois, mostraram-me que amor era loucura. Que era cego e surdo mas caminhava sem cessar, corria sobre arame farpado na miragem que o lado bom do mal se revelasse. Sussurraram-me mil palavras de ternura, quando o vi subtraído da nossa própria alma, e o perdi no meio de uma rua lotada. No meio da multidão corri, louca ou apaixonada, e analisei cada esquina, cada beco, cada homem, mulher, criança, menino ou menina. Pensei, teorizei e na cisma de o dominar abandonei-o como a mais simples e pura verdade: amar. Dei por ele maltratado e chamado de vagabundo. Estava vendido e sujo, de nada me valia. Assim era alugado e drogavam-se com ele em plena luz do dia, à vista de todos! Alguns diziam palavras insanas mas fugi desses desgraçados que tocavam a profundidade em mim. Queimavam-nos no seu ridículo e atiravam-nos para poços de preconceito. Aproveito para confessar que escolhi afastar-me do amor, porque de facto nem me lembrava por que procurava algo que nunca ia encontrar, algo que a minha compreensão não alcançava e que a moda proibia.Tornei-me moderna. E o amor tornou-se um processo químico na cama, desgostoso como a lama onde me arrastava e me perdia. À luz do dia era livre, mas mostrava-se um vício, um capricho de quem viveu tempo de mais a julgar-se sozinho e precisa de companhia. Toda a gente fazia. Tínhamos conversas entusiasmadas do que vivíamos, e o vazio que preenchemos em tragos custosos, o nosso amor agravava. Já conhecia de cor o mar de gente que inundava a rua. E aprendi a reconhecer o amor, aquele que agradava a multidão, que nutriam as novelas e as canções. Os desgraçados eram fantasmas de uma fábula qualquer, sombras do que já existiu, mas se perde na existência brutal do ser.Quando choquei contra uma nuvem de pó. De onde vinha... Era mais um deles... que ardia em chamas nas quais todos contribuíam com combustível, que tornavam de certa forma mais "unido" o horrível acto de os banir da nossa rotina amarga. Foi com o toque macio das cinzas nos meus olhos abertos e acostumados com a dor, que o fumo ardeu mais forte a mim que ao insano que pregava o amor. "Cegou-me!" – gritei no meu desespero louco. "Não posso ver!" e no instante em que quis morrer de medo, no momento, vi algo que nunca tinha vislumbrado na rua. O amor, despido de preconceitos. A verdade, nua das esteiras que a cobriam. Como um recém-nascido que abre os seus olhos pela primeira vez para a vida, Olhei mais fundo cada partícula de ar, cada gota de orvalho, cada pedra da calçada. Num segundo, apenas num segundo, vi tudo aquilo que não tinha visto desde o meu primeiro passo na rua. E ouvi o desgraçado, que me parecia um rei de um reino distante... Cantou-me que o amor era submisso, desinteressado! Que era a intensidade de poder tocar sem sentidos, e sentir sem proximidade. Era amar sem barreiras, na ingenuidade do "para sempre"! Depois vi mais ainda. Via as pessoas, mas também os precipícios entre elas, que às vezes não hesitavam em engoli-las sem que se dessem conta da queda. E sentia a sua dor, porque sem saber, já as amava também. E doía-me a mim como não doía a elas na sua inconsciência. Uma noite, no meu desespero gritei-lhes "Acordem! Acordem para o Amor!" Mas as pessoas que passavam por mim apenas olhavam estupefactas e murmuravam palavras de indignação. Queimaram-me a mim também, cada um deles, e nem um levantou palavra a favor da minha salvação. E gritei, chorei, até me desfazer nas cinzas da rua. E aprendi uma maneira de abrir os olhos de cada pessoa... apenas espalhava o meu véu de fumo pelas suas cabeças, e sonhavam com o verdadeiro amor. E também eu sonhava que um dia elas acordassem para ele.O amor conquistou-me e mostrou-se tudo. Era Tudo o que tenho e tinha, tudo o que existe. Perdi a explicação no dicionário de filosofia. E finalmente descobri a resposta do enigma."O que é o amor?"A resposta é simples e breve. Não há.Passei horas a divagar sobre a palavra mais clara e adicionei-lhe a complexidade que não tinha. Não me considero mestre no amor, sou só mais uma rapariga que perde o coração por qualquer fantasia de amor. Mas encontro o meu coração no próprio sentimento e não na fantasia. O mais importante nesta pergunta não é a resposta mas a questão que levanta a poeira sobre os nossos olhos e nos faz ficar cegos e ver mais além.O amor não se questiona, nem se pensa. O pensamento é antigo e amigo das experiências do ser humano, e o amor nunca foi experimentado na sua totalidade, porque é infinito. Por isso o pensamento é inimigo do amor. Para se amar, é preciso deixar o pensamento e agarrar-se à crença. É preciso renascer e ser outra vez criança ingénua. Apenas na ingenuidade o amor resiste. Simples.

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