terça-feira, fevereiro 7

Observando

Foi um daqueles dias em que pairo por cima de tudo o que acontece. Vejo o mundo acontecer como num filme, em câmara lenta por vezes, ou freneticamente. Mas passa, tudo se passa em frente aos meus olhos. Vejo o mundo a crecer. As gerações a mudar - as cenças a serem reconstruídas em cima de ruínas, muralhas antigas. E só julgo, silenciona pelo respeito, somente observo o que acontece, como uma boneca inerte poisada nas nuvens. Vejo aquelas pessoas que realmente interessam. Observo os seus olhos brilhantes preparados para o mundo com uma moral inabalável, com uma fé de montanha e força de ajuda que vai, mas volta sempre como as ondas do mar. Vejo as suas faces pacíficas de quem não vive em paz mas acredita nela, e na felicidade (como o conjunto de todas as coisas que já têm, e querem ser). Penso neles com um carinho daqueles que sabem a razão, mas não a aceitam. Talvez nunca esteja preparada para ser pessoa. O que faço parece-me tão inútil face a tudo... e não é que não viva: vivo! Caminho, respiro... e estou cá... mas não sei porquê se vivo à parte de um mundo que quero e ao mesmo tempo rejeito com todas as minhas forças. Quero tanto acreditar que às vezes acredito que acredito: até ter em frente toda a minha descrença. Procuro-me em livros, em bíblias, em conversas... e perco-me no ar, transparente. Vejo-vos a vocês, tão puros, de uma inocência (limitada humanamente) e um coração tão bom... tão unos e inseparáveis que não queria somente ser igual - queria dar-vos tudo, queria dar-me a mim! Do que é que servia? talvez seja só louca e me renda à rotina, porto seguro de tantas dúvidas e lágrimas que armazeno (armazenamos todos?) diáriamente nos meus olhos.

Como vos invejo. E ao mesmo tempo peço a Alguém justiça, a Alguém que a possa dar. Porque pessoas assim não deviam sofrer. Não deviam viver cá em baixo (ou quem sabe, talvez não vivam.) Deviam estar mais alto, mais alto nas estrelas e caminhar sobre os seus intervalos como quem caminha sobre seda, feliz.

Para quê tanta injustiça? Para quê tanta morte? Tanta dúvida? Tantos deuses? Tanto ódio? Para quê tanta guerra? Tanta inveja? Tanta ganância? Tanta ambição? Para quê tanto dinheiro? Tão pouco dinheiro?

Tantas mortes? Tanto azar? Tanto castigo

Porque é que não há tantos sorrisos como crianças a cairem mortas no chão?

Porque é que consigo ver tudo e fazer tão pouco?

Porque é que vejo e não vivo somente? Porque é que me atormenta..?

Porque é que não consigo fazer o meu máximo e sentir-me feliz, como vocês?

Porque pairo somente. E á minha volta, fora da bolha que (... me protege?) me esconde, tudo acontece

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