Digam-me voces
Um dia, ela teve de ser feliz.
teve de ser.
Talvez só um esboço de felicidade, um sorriso, um olhar.
Mas teve de ser, digam-me que foi...
Que a vida dela não foram só lágrimas. Interrogações negras. Olhares esguios. Mentalidades corroídas. Digam-me que teve uma oportunidade de ser feliz, que há SEMPRE independentemente de tudo, uma oportunidade para ser feliz!
Digam-me, por favor, que um dia ela viu que a vida era boa.
Que o sofrimento nunca foi maior do que aquela visão.
Que as expectativas não a algemaram.
Que havia amigos carinhosos
pais carinhosos
amor
Não havia.
Só havia silêncio do lado do amor
E gritos alucinantes do lado deles.
Do lado negro. Do vosso lado.
E porquê?
Porque havia ela de viver? Para corresponder aos vossos desejos, penetrar na vossa mentalidade pré-fabricada? Para caber no número mais baixo das lojas, equilibrar-se em saltos; Ser inteligente, bonita, carinhosa, amorosa, normal. Aceite?
Porque havia ela de viver? Para se entregar a um Deus que se manteve calado quando todos a abandonaram, que a aprisionou naquele mundo salgado, que se esqueceu dela ou a ignorou? O que é pior? Esquecer ou ignorar? Que provações são essas? Que Deus de bondade faz uma alma tão frágil e débil cair ainda mais fundo?
Porque havia ela de viver? Se era tudo complexo de mais, complicado de mais, e tudo tão simples, rotineiro. Se era um mundo dentro e outro fora, se nada valia mais nada que um palmo cheio de moedas?
A morte bateu-lhe a porta e ela fechou a janela para o mundo.
Já não bastava ser a mais magra.
Já não bastava ser boa.
Já não bastava ter aquele brilhozinho nos olhos.
Já não bastava ser amiga.
Já não bastava conversar.
Já não bastava concordar.
Não bastava ser inteligente.
Overreaction.
Qual é a linha que se ultrapassa para se chegar ao exagero?
Qual é a fronteira do aceitável?
A reacção emocional normal.
Qual é, digam-me, a emoção normal?
E que medida é essa que vocês usam no vosso julgamento fiel para a tornar tão espinhosa?
Game Over.
Sem comentários:
Enviar um comentário