quarta-feira, setembro 27

Talvez o teu corpo seja água quente (agora, não dantes). E assim, límpida e transparente és uma bolha de água que caminha entre as gentes. Quando uma mão se aproxima à distância certa, consegue sentir na palma aberta o aveludado da tua superfície cálida, e a tua pressão anti-gravidade que expele qualquer contacto com uma impetuosa força. Não que seja vontade tua expulsar todo o toque da tua pele nua, da tua alma despida... mas como a água quente, és sem razão: sem vida; e no entanto à tua volta tudo acontece!

Uma vez, deixaste-me mergulhar em ti. E era tão bom estarmos assim, envoltos pelas gotas do nosso amor. Mas quase que me lembro da visão turva que tinha do exterior quando olhava cá para fora... as coisas não eram piores, apenas... deformadas. Foi no entanto contrariada que abandonei o teu estado, que nessa altura já era mais... fléxivel. Agora seria inconcebível voltar a olhar para o mundo de dentro de ti, esse mundo cristalino em que afundas todos os que se atrevem a penetrar a barreira da superfície.

Eu sei que estás sozinho, não precisas de mo repetir... dizes que não te importas. E mais uma vez, como está na tua natureza, escapas-me por entre os dedos e escorres pelo chão inclinado. És livre, sempre. Mas a liberdade está no poder de escolher estar sozinho, não na solidão em si.

E continuas um mar de palavras não ditas. Talvez um dia mas cuspas na cara afirmando que te abandonei.

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