terça-feira, março 7

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Naturalmente que as reacções não eram contidas. Eram espontâneas - instintivas! E eu não posso julgar respostas deste tipo. Dizia, naturalmente (como o é para mim), enquanto atravessava a estrada. Era tão normal que nem pensava nisso (ligaçao directa do cérebro à bouca, sem passar pelo filtro das convençoes...) e só algum tempo depois me apercebia dos olhares cruzados, das palavras gagas, da anormalidade a chocar contra uma versão da vida que não é a minha. As pessoas estranham, claro que estranham. E calam-se. E olham de lado, e sussurram ao descer as escadas,espreitando por entre as malhas do cachecol. Deixa de haver assunto. Não entendem do que falo, porque falo, ou que espécie de vocabulário uso - como diria algum livro que conheço- falta de compreensão do código que utilizo para me exprimir na sociedade. Também nunca tive la muita facilidade em falar com as pessoas - não directamente, olhos nos olhos e essas coisas. Escrever era para mim muito mais fácil. Gestos e palavras, quando saem do meu cérebro pelas cordas vocais, pelo meu corpo, parecem descontextualizados, premeditados ou enlouquecidos. E as pessoas, claro, estranham.

Mas eu sinceramente não entendo a razão. Quer dizer, já vivi o tempo suficiente para me adaptar não é? Ou não? Será que alguma vez me vou adaptar? Será que e realmente importante adaptar-me a um mundo que se calhar nunca vai entender a minha linha de pensamento absurdo?

E será que alguma vez eu vou entender quantas linhas há no meu pensamento?

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