domingo, dezembro 10

Aquário

Depois da revelação, Tamukay não aguentava a felicidade bruta que lhe escavava os músculos em tremores e tiques. Queria sorrir, gritar ao mundo o quanto era feliz, naquele preciso momento, com o cheiro salgado a violar-lhe a aspereza do rosto e da túnica. Queria gritar pelos ecos do pacífico o quanto a amava. Queria pintar todas as cores que lhe encadeavam os olhos. "Amor! Amor! Amor!" - Pensou gritar, enquanto se espalharam as palavras, como uma onda, um terramoto na sua mente; latejaram nas lóbulos sem sequer saírem do pensamento). Sentiu um furacão de nuvens brancas elevá-lo numa espiral de carinho e atirá-lo às estrelas - e sem cair, escorregando pelos desenhos dos raios de sol - poisou nas copas macias. Milhões de pequenas flores dançaram serenamente à sua volta, e dançou dias e dias sem se aperceber sequer que nenhum dos seus movimentos o cansava, o entediava. E sem compreender as pessoas, adorou-as e deixou de ter medo delas; e descalçou os sapatos à chuva até escorregar na relva perfumada. E beijou a água, perdoou todas as suas exigências, por ter permitido tal consumação do seu amor. E foi quando mergulhou na água, para esgotar os seus esfomeados gritos que reparou que a sua jovem sereia fugira. E no fundo do mar, apenas pequenos lençóis de areia se moveram.

O pescador olhou de novo.
E de novo.
Até que até ele se fundiu no silêncio e na imobilidade daquele aquário.

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