segunda-feira, dezembro 11

Violinos


Deixei a sala vazia, atravessei o corredor vazio.
Abri a porta.
Saí.
Apenas, o som do agressivo trote que, as pequenas rodas faziam saltitando pela calçada e, suportando um peso para o qual não nasceram destinadas se fazia ouvir na rua de tecto nublado.
No autocarro, Rute, nos seus onze anos, observava atentamente todos os meus pequenos gestos, como se a cada um descobrisse uma coisa nova, como se cada um fosse uma surpresa inesperada.
Saí.
Despedi-me.
Abracei.
No carro, conversei animadamente sobre a sonolenta viagem, os longos dias de ausência, os sorrisos guardados, as palavras soltas.
Entrei em casa.
- CASA! - pensei.
Jantei.
Deixei a sala ocupada, ocupada com ocupados e, vazia para mim.
No dia seguinte, deixei o quarto com portátil ocupado, entrei na sala, de televisão e portátil ocupados. Ocupei então o computador, vazio.
Na rua de tecto negro, só o chocalhar do plástico contra o corpo, o trote como acompanhante, como um violino que não se ouve só.
Entrei.Encontrei o corredor vazio, uma sala vazia, o meu quarto.

1 comentário:

M&M como o chocolate. disse...

Adoravel..como sempre =D i always feel whatu say..*