quarta-feira, dezembro 27

Fechadura

Todos as noites, durante os nove meses, a mãe passava-lhe gentilmente a mão sobre o ventre e suspirava:

Um amor proibido é sempre mais forte.
E Julieta pensava, suspirando só para si (Um amor escondido é sempre mais forte). Mas não dizia nada, fechava os olhos e fingia adormecer. No seu sonho, o bebé, acabado de nascer, jovem robusto com os olhos do pai, gritava enquando ela levantava voo: Um amor distante é sempre mais forte!
Foi no sobressalto de uma noite assim que Julieta enterrou todas as cartas de Romeu, as prendas e as madeixas de cabelo; todos os laços, os abraços, os beijos e os esboços da sua cara: trancados num cofre no quintal, debaixo da macieira. Nunca mais tocou no seu nome, e quando o filho perguntava pelo desconhecido, Julieta poisava os olhos no vazio e dizia:
Trancado, um amor é sempre mais forte.
E a avó choramingava nos cantos por saber que o amor da filha, proibido, escondido, guardado, trancado, enterrado.. viveu para sempre (contra a sua vontade) no coração de Julieta.

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