sábado, dezembro 9


Sou pela arte que toma forma a partir dos traços da vida, que se enrola e se estende e cospe e pinga, e é pesada e crua e bruta e doce e estúpida como a própria vida…

Sou pela arte que se põe e se tira como calças, que ganha buracos como peúgas, que se come como um pedaço de tarte, ou se larga com desprezo como um pedaço de merda…

Sou pela arte que se cobre com ligaduras. Sou pela arte que coxeia e rebola e corre e salta…

Sou pela arte que se esquiva e grunhe como um lutador.
Sou pela arte que deita cabelo.

Sou pela arte que dá para sentar em cima.
Sou pela arte que dá para limpar o nariz ou enfiar os dedos dos pés.

Sou pela arte da algibeira, dos canais internos do ouvido, da ponta de uma faca, nos cantos da boca, espetada no olho ou usada no pulso…

Sou pela arte do suor que aumenta entre as pernas cruzadas…


Sou pela arte que é penteada a direito, que é pendurada em cada orelha, que assenta nos lábios e debaixo dos olhos, que é rapada nas pernas, que é escovada nos dentes, que é fixada nas coxas, que é passada no pé.




Claes Oldenburg
in Store Days, New York: Something Else Press, 1967

Sem comentários: