Cedo de mais (1)
O seu hálito áspero arrastou-se pesadamente pelas narinas e arranhou-lhe a garganta. Ficou durante algum tempo tão próximo dela que podiasentiro calor da sua face, ele que violava o seu espaço torturando-a com um futuro próximo de mais. Respirava pesadamente e os seus olhos, lentos e sujos, podres de alcóol, procuravam apenas a doçura da sua pele gordurosa. Mesmo depois de se ter afastado ela teve de forçar a respiração - controlá-la, porque entre os seus órgãos já se alastrava aquela dor embriagada, despedaçada; arrastando espinhos de vidas corrompidas e rascando-lhe a carne. Algo a prendia contra os azulejos cinzentos da casa de banho, e procurava com as mãos o lavatório, que o hábito lhe dizia estar por perto. Mas não estava. Queria gritar, mas era como se a sua voz se calasse no corpo, submersa nas náuseas e no vómito que borbulhavam.
Apercebeu-se que não era só um - eram vários, como já sabia. O medo suou-lhe o percoço e uma água melosa e quente colou-a ainda mais aos azulejos aderentes. Conseguiu soltar uma mão e depois as duas: teve então um pudor estranho e um medo imbecil de se magoar ainda mais, beliscou-lhe os braços da cor da terra e pensou patéticamente, que quase o tinha arranhado. Mas ele investiu com mais força contra aparede, pressentindo uma reacção mais brusca e o seu hálito negro violou os seus poros antes de tudo, ó horror trepou-lhe os olhos secos. Os outros, sentiu-lhes as mãos. Nas pernas, nas coxas, na sintura. Abriram fácilmente o botão que a mãe tinha hábilmente costurado na semana anterior.
Já não era uma brincadeira - pensava. É um jogo, é um sonho, era uma brincadeira. Depressa, depressa! Gostas? Já não lutava, as mãos debatiam-se sozinhas, ela, infiel ao seu esforço já se entregava àquela dor forasteira, fugia da realidade enterrando-se no pânico.
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