sábado, janeiro 13

O demónio 1/3

Nasceu numa terça feira, debaixo de uma pastilha elástica esmagada. Como toda a gente sabe, as pastilhas elásticas esmagadas deixam de ter cor, e sabor; mas ele jura que se lembra que era uma pastilha elástica de morango, com um tom rosado de algodão-doce. Primeiro, sentiu um sufoco, os fior de geleia dura presos à pele cinzenta. Depois, esticou o seu minúsculo braço, e abriu uma frecha. Teve sorte! Tinha havido greve, e por isso não havia pessoas a correr de um lado para outro. Por isso, de uma golpada de ar carbónico, empurrou a massa da pastilha e projectou-se para a frente com toda a força!

Pof! Chocou com a pequena cabeça careca no banco de metal. Mas ninguém o viu, e naquele preciso momento, chegou o comboio. "Senhores passageiros. O comboio interurbano procedente de " - uma voz estrondosa fez tremer o pequeno corpo de Ninguém. (Ou isso, ou a corrente de pessoas que se levantou e correu em direcção ao Grande Buraco Onde Passam Monstros Barulhentos de Metal.)

Mas Ninguém habituou-se, e há medida que crescia, aprendia cada vez mais sobre os macacos crescidos (as pessoas) e os seus hábitos. Por exemplo, sabia que havia vários tipos, e que não se misturavam muito, sem ser quando se empurravam e se fundiam na multidão que o monstro sugava. Ninguém imaginava que seriam sacrificados (que sentido faria mais?). A única pergunta para a qual o pequeno cérebro de alfinete não tinha resposta, era para quem seria ele.

O dia mais feliz da sua vida foi, porém, quando aprendeu a ler. Estava sentado no encosto do banco, atrás de um macaco pequeno com pêlos entrançados na cabeça, quando a ouviu repetir, enquanto riscava as letras: "A", "B"... ao seu lado, um macaco grande ia corrigindo. E assim, todos os dias, às 15:20, lá estava Ninguém a aprender a ler, debruçado sobre o corpo da pequena criança.

(continua...)

1 comentário:

SuntoryTime disse...

Genial. A continuação depressa pls :P *